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Desafrio

     Ter coragem, resistência e condicionamento físico não basta. Tem de ser persistente. O Desarfio, a maior competição de esportes radicais de Santa Catarina levou 620 atletas maratonistas de diversas regiões do Brasil, a enfrentar os próprios limites nas montanhas geladas de Urubici, neste sábado (22).
Na sua décima edição, o Desafrio atraiu competidor até do exterior. Um maratonista francês atravessou o Atlântico para enfrentar as adversidades da prova. Ao mesmo tempo em que as belas paisagens encantavam os atletas, a altitude de até 1.822 metros em pontos como no Morro da Igreja, o ar rarefeito e a temperatura de zero grau geravam sensações estranhas nos competidores.
"No Brasil não existe outra competição com estas características. A altitude, o frio, o terreno acidentado, a umidade e o percurso de 52 quilômetros são uma provocação aos desafiadores. A questão para a grande maioria não é a classificação de chegada, mas o cumprimento da prova. É isso que incomoda eles", explicou Maria de Fátima da Silva Duarte, vice-diretora da EcoFloripa Eventos Esportivos, responsável pela realização da prova.
Do ponto de partida em frente a igreja matriz de Urubici até o ponto a Pedra Furada, os atletas passaram por áreas de aclives e declives acentuados, trilhas por entre matas, percursos de asfalto, campos, pontes e até porteiras foram abertas para dar passagem aos competidores. Sem contar a sensação térmica de menos cinco graus.
Para enfrentar a variação de altitude entre 900 a 1.822 metros, o Desafrio registrou este ano, a inscrição de 201 atletas pela categoria individual, 134 duplas masculinas, 34 duplas femininas, 80 duplas mistas e 44 duplas veteranas, além de 25 atletas masculinos e 65 femininos para a Minimaratona de 8 quilômetros, que aconteceu à parte.

Atletas de 15 estados e 82 cidades do Brasil

Que poderiam passar frio, alguns atletas sabiam. O que não imaginavam é que o Desafrio é quase uma prova de sobrevivência. Especialmente para atletas do Rio de Janeiro, Ceará e Paraíba. Ano passado o evento teve pouco mais de 500 competidores. Na primeira edição foram apenas 78 atletas. E só não aumenta mais, por falta de estrutura de acomodação aos participantes.
O Desafrio atrai à Urubici alguns dos melhores maratonistas do Brasil. E junto vem corredores de rua, amadores e admiradores de esportes radicais. Muitos participam do evento como preparação para maratonas em outros países. Desde a recepção até o cumprimento da prova, os atletas recebem atenção especial.
Ao longo do percurso foram montados postos de abastecimento com água, isotônico, frutas, sopas quentes e alimentos sólidos para reidratar e fornecer aos competidores o vigor necessário para não desistir. Mais de 100 pessoas foram mobilizadas como equipe de apoio.
Para eventuais emergências foram disponibilizadas cinco ambulâncias e uma UTI móvel. Nenhuma ocorrência grave foi registrada e apenas um atleta sofreu uma queda e esfolou o rosto. Até uma equipe de massagistas foi colocada para atender os atletas com fadiga muscular na chegada.
Muitos com câimbras e fortes dores musculares foram levados direto para maca, onde passavam por sessões de massagem, reidratação e reposição de nutrientes devido ao excesso de esforço físico.

Paulista venceu a prova geral

Dosar o esforço físico durante o percurso. É o segredo para obter um bom desempenho no Desafrio. E foi isso que fez o atleta Vanderley Santos Pereira, de São Bernardo do Campo, em São Paulo. Com tempo de 4 horas e um minuto, ele foi o campeão geral do Desafio deste ano.
"Respiração pesada, muito frio e cansaço. O momento mais difícil foi ao completar os 26 quilômetros no Morro da Igreja. Me mantive concentrado e calmo para continuar correndo", revelou Vanderley Pereira. A exemplo dele, nenhum atleta conseguiu chegar no ponto da Pedra Furada correndo. As subidas íngremes obrigavam a caminhar.
Foi a primeira vez que Vanderley participou do Desafrio e considerou o evento um dos mais desafiadores de sua vida. "Estou me preparando aqui para a maratona 24 horas que terá no Rio de Janeiro", revelou. Para o atleta Anderson Rosa da Silva, de Canoas, que chegou em segundo com tempo de 4 horas e nove minutos, a prova foi uma experiência inesquecível.
O secretário de Turismo de Urubici, Paulo Nunes, disse que o Desafrio já está incorporado ao calendário de eventos do município. E reconhece que falta estrutura de acomodação para mais visitantes. "Ao menos duas mil pessoas vem ao município nesses dias. São atletas, familiares e amigos que lotam a hoteleira e de pousadas", afirmou. Desde a estrutura de saúde até o deslocamento de pessoas aos pontos de apoio, a prefeitura deu apoio ao evento.