A partir desta segunda-feira (01) está liberada a colheita e comercialização do pinhão. Com produção estimada de 250 mil sacas por safra, a extração da semente ainda é considerada amadora na região e sua utilização é limitada a pratos típicos. Mesmo assim, na última década, o produto símbolo da região, deixou de ser complemento e se tornou a principal fonte de renda para diversas famílias das localidades de interior.
A família do agricultor Jaisson Padilha Palhano, de 33 anos, vive na localidade Farofa, no interior de Painel, e trabalha com extrativismo de pinhão há quase 50 anos. Ele assistiu, nas últimas décadas, uma inversão de valores, ao ver a semente passar de complemento de renda à principal fonte de sustento da família. "A safra dura só quatro meses, mas o que a gente ganha dá para se virar o ano inteiro. Para complementar a renda, a gente cria gado para vender os terneiros e lida com vime também", conta.
Segundo ele, na última safra, foram colhidas cerca de 400 sacas de pinhão, o que equivale a aproximadamente 20 mil quilos da semente. Neste ano, ele acredita que haverá uma redução de 70% em comparação com 2012. "Nesta ano, a safra vai ser menor e vamos ter que procurar alternativas, porque não vai dar para se sustentar até a safra do ano que vem".
Jaisson lembra que o ano de melhor produtividade foi, também, o de maiores prejuízos. Em 2007, foram 1.050 sacas extraídas. Destas sobraram quase 200 que sequer chegaram a ser comercializadas, tamanha a oferta de produto. "O preço que pagaram naquele ano não era muito bom. De lá para cá a produtividade dos pinheiros só diminuiu".
O secretário da Agricultura em Lages, João Antenor Pereira, foi pesquisador da Epagri até o ano passado. Na estatal, ele ajudou a desenvolver pesquisas sobre o pinhão e, em um destes levantamentos apontou Painel como a cidade que mais produz a semente. Segundo ele, de lá saem cerca de 50 mil sacas por ano, o que equivale a 2,5 mil toneladas, um quinto da produção estimada de toda a região. "Painel é onde temos um núcleo forte na região, que tem no pinhão a principal fonte de renda da propriedade. Isto é significativo porque até então, a renda que vinha do extrativismo do pinhão era para complementar outras atividades. Hoje a fonte de renda continua sendo a pecuária, mas o pinhão é a principal em termos de dinheiro", analisa.
Em Painel, são pelo menos três comunidades onde o pinhão é a principal fonte de renda: Farofa, Casa de Pedra e Mortandade.
Exportação para a China
Prova da capacidade de expansão deste setor, é o crescimento da procura pelo pinhão no mercado. Recentemente, a Secretaria de Agricultura de Lages foi procurada por uma empresa de São Paulo, que busca fornecedores de pinhão para a China.
De acordo com o secretário João Antenor Pereira, os chineses querem importar dois contêineres de 20 toneladas cada, por mês. "Por enquanto é só uma consulta comercial, mas é promissora. São 40 toneladas de pinhão por mês e o preço está em aberto.", revelou.
Semente não é muito explorada na gastronomia
Se comercialmente o pinhão ainda não é muito explorado, na culinária ele também deixa a desejar. Segundo o chef Edson Castro, responsável pelo blog CL Mais Gourmet, do portal CLMais, o produto é pouco explorado neste quesito. "Ele permite fazer uma série de receitas mais elaboradas que as nossas tradicionais paçoca e entrevero."
Para Castro, uma forma de incentivar a inserção do produto na culinária, seria a realização de festivais gastronômicos, com a participação de grandes chefs nacionais, julgando e ensinando novas receitas. "Assim, incentivaríamos os restaurantes locais a desenvolverem novos pratos com esta semente", acredita.
Castro compara o pinhão ao pinoli, produto muito utilizado na culinária mediterrânea. "São duas sementes muito parecidas e podemos facilmente substituir o pinoli por pinhão em diversas receitas".
Desorganização atrapalha o crescimento
Um produto que não exige grandes tecnologias de plantio ou de colheita, o pinhão tem grande potencial comercial, mas falta organização dos produtores na hora da armazenagem e da comercialização. Além da importância histórico-cultural para a região, o pinhão é um produto com notório valor comercial.
De acordo com o secretário da Agricultura de Lages, João Antenor Pereira, a desorganização faz com que os produtores não percebam que precisam agregar valor ao produto, como guardar em câmaras frias e procurar mercados alternativos. "Hoje eles têm um ou dois compradores assíduos e assim se mantêm, não exploram esta parte".
Pereira descreve a cadeia produtiva como "fragmentada e pulverizada", pois não segue padrões como as cadeias produtivas de outros produtos como o milho, feijão e o leite, que já estão organizadas, têm volume e um significado para os produtores inseridos.
"Quem está envolvido na cadeia produtiva, não se dá conta do valor do produto que tem na mão. Deveríamos ter uma política pró-pinhão, por meio do apoio de entidades intermediárias, como as Secretarias de Agricultura, Epagri e o próprio CAV que tem um trabalho muito bom (referindo-se ao Projeto Kayuva)".
Preço do pinhão (fonte: Secretaria de Agricultura de Lages)
Produtor
• Com base nas últimas safras, o produtor recebe em média entre R$ 0,80 e R$ 2,50 (o quilo). A alta variação acontece em função da oferta e da pouca conservação.
Consumidor
• Nos mercados de Lages, a semente é encontrada por preços que variam de R$ 3,00 até R$ 6,00, o quilo. A grande variação acontece pela desorganização da cadeia produtiva.
Fonte : CLMais