A FALTA de oportunidade de trabalho associada à invasão de atividades de monocultura como o pinus, estão empurrando os serranos a um processo de migração desenfreado. É o que revelam os primeiros dados do Censo/2010 e que indicam uma frustração da população em relação às estimativas.
Informações preliminares apontam que a população que deveria passar dos 300 mil habitantes nos 18 municípios abrangidos pela Amures, pode não atingir os números estimados há dez anos, quando o Censo/2000 contou 285.283 habitantes. Com 89,2% da população recenseada este ano, o número de habitantes está em 269.131.
O coordenador técnico estadual do Censo 2010, Carlos Roberto Roncatto Filho, esteve reunido com os prefeitos da Amures, semana passada, para apresentar um balanço parcial do Censo. E revelou que os municípios com características rurais estão tendo evasão rural. "As análises a partir dos dados censitários mostram que os municípios rurais com população pequena estão enfrentando um processo de migração para os municípios polos", afirma.
O levantamento do Censo está apurando que, apesar de residir na cidade, as pessoas mantêm a propriedade na zona rural. São os chamados moradores de uso ocasional da propriedade. Assim como estão sendo encontradas muitas propriedades no entorno de Lages que tinham característica rural e que hoje são chácaras de lazer.
Para chegar a esses dados as equipes censitárias estão fazendo uma varredura em toda a Serra Catarinense e constataram que Lages tem um grande número de moradores que são estudantes de municípios vizinhos. Isso explica a migração populacional dentro do território e pode mascarar o aumento populacional.
"Nas estimativas, não é fácil captar esta população. Mas temos um processo minucioso de varredura que permite identificar até mesmo quem tem uma moradia num bairro e reside efetivamente num apartamento no Centro", reitera o coordenador do Censo.
Da mesma forma, a migração para outras regiões do Estado também está sendo apurada pelo Censo. E os serranos estão se deslocando e estabelecendo-se em municípios como Palhoça, São José, Biguaçu, e no entorno de Florianópolis.
Pinus contribui para a evasão
As famílias remanescentes do meio rural são em grande parte as que têm ocupação de mão de obra no extermínio de formigas. O inseto é uma ameaça aos reflorestamentos. Quando termina o ciclo de tratamento dos primeiros anos, as famílias migram para outras regiões ou acabam se estabelecendo nos grandes centros.
O avanço de novas áreas de pinus e eucalipto foi um dos focos da reunião dos prefeitos com a coordenação do Censo/2010. É que o avanço da monocultura substitui também, outras culturas nativas ou de lavouras que demandariam emprego de mão de obra. "A monocultura é evasiva de mão de obra e nos deparamos com imensas áreas de pinus em todos os lados e em todos os municípios", revela Carlos Roncatto Filho.
Por solicitação do prefeito Everaldo Ransoni, o coordenador do Censo foi a São José do Cerrito fazer uma verificação in loco do número de vagos que havia no perímetro urbano. E constatou que havia apenas uma casa desocupada, mas que a proprietária estava fora para tratamento de saúde.
Pelos dados do Censo, São José do Cerrito terá o maior impacto em decorrência da queda de população.
O Fundo de Participação dos Municípios (FPM) é a transferência de recursos provenientes da arrecadação do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O coeficiente de cada município é fixado de acordo com dados populacionais e na renda per capita de cada município. E como a população cerritense diminuiu, o repasse sairá da faixa de 0.8 para 0.6 e a prefeitura perderá em arrecadação cerca de R$ 60 mil por mês.
O prefeito até sugeriu ao coordenador do Censo um trabalho mais apurado com recontagem no Cerrito. Mas a defasagem populacional está evidente e Carlos Roncatto Filho reafirma que metodologia da pesquisa não privilegia ninguém. O levantamento de campo da pesquisa já foi concluído e esta semana serão revisados os dados para localizar os vagos e situações de uso ocasional de moradias.
Prefeitos atentos ao Censo/2010
Preocupante. Assim define o presidente da Associação dos Municípios da Região Serrana (Amures), prefeito Janerson Delfes Furtado, o resultado da pesquisa do censo populacional que deve ser apresentado em breve.
Ele aponta o indicativo de diminuição da população ao fator do abandono e do esquecimento da região em termos de desenvolvimento e atração de investimentos na última década. "No interior já não tem mais jovens. Precisamos reverter essa situação. Os vazios rurais estão aumentando e só com incentivos e profissionalização do agronegócio e atraindo empresas para a região poderemos frear a evasão", diz.
A redução populacional que foi tratada semana passada em reunião na Amures continua na pauta dos prefeitos e em especial, sobre a situação a ser enfrentada por São José do Cerrito. Pelos dados de estimativas do Censo, o Cerrito que deveria ter 10.624 ficará na faixa de 9.250 e o primeiro reflexo será o encolhimento de repasse do FPM.
O coordenador do Censo explica que a estimativa do censo de 2007 não está errada e confere com os dados em nível estadual e federal. Mas não teve o mesmo comportamento com os menores municípios. "Os municípios decresceram e o que se observa é que a maior tendência foi nos menores. Os prefeitos estão sim preocupados e entendemos essa preocupação", reconhece Carlos Roncatto Filho, que admite que a pesquisa do Censo, como qualquer outra, tem uma margem de erro de até 2,5%.
Pelos dados preliminares do Censo, em 16 dos 18 municípios da Amures haverá diminuição de população. Só em Bom Retiro e Bocaina do Sul haverá acréscimo de habitantes. E quando comparado a dez anos atrás, se conclui que a região terá pelo menos 30 mil habitantes a menos que em 2000.
Lages, por exemplo, tinha em há dez anos 156.406 habitantes e deveria aproximar dos 170 mil habitantes este ano. Mas pelas pesquisas até agora apuradas dificilmente chegará a 160 mil habitantes. Outro município que sofreu o impacto da redução populacional foi Anita Garialdi que chegou a ter mais de 10.200 habitantes e hoje figura com um quadro aproximado de 8.600 habitantes.
Um dos fenômenos das oscilações populacionais são as grandes obras temporárias. Como construção de estradas e hidrelétricas que promovem um crescimento tipo "bolha" e mascaram o número de habitantes. Quando ocorre isso, os municípios enfrentam sérios problemas estruturais, porque a arrecadação originária do FPM não confere com o número de habitantes. E deverá ser o que acontecerá com as grandes obras previstas na região.