"O GRACIANO não passou por Anita Garibaldi, marcou uma época. Ele saiu do nosso convívio para entrar para a história".
A declaração é do prefeito Roberto Marin, se referindo ao professor, historiador, poeta e músico, Graciano Martello, que desapareceu no lago da represa da Baesa, sábado (21) à tarde. Até o início da noite desta segunda-feira (23), o Corpo de Bombeiros mantinha as buscas.
Aos 78 anos, Graciano terminava mais um livro. Foi quase um ano de pesquisas e nem chegou a vê-lo impresso.
Na quarta-feira (18) da semana passada o material foi enviado para a gráfica, sob o título "O Vereador".
A obra resgata não apenas a história da Câmara de Vereadores, mas o verdadeiro papel do legislador municipal.
Graciano, que nasceu em São João da Ortiga (RS), recebeu em 1996 o título de cidadão garibaldino.
Foi neste momento que revelou à comunidade daquele município, uma de suas principais obras, sobre a história do município.
Autodidata, Graciano queria saber sempre mais. E foi por esse desejo que escreveu o livro "A Saga dos Migrantes", onde em versos e poemas resgatou os sobrenomes que povoaram Anita Garibaldi.
Mas é na música que Graciano jamais será esquecido. É dele a letra e a música do hino do município. Sua contribuição não se limitou em letras e pesquisas. Mas a gestos e tomadas de decisões que serviram de exemplos para os homens públicos.
Foi secretário municipal de vários prefeitos e por ter sido seminarista, não deixava de ir à missa aos domingos.
Mas quis o destino que Graciano não fosse ao velório de uma católica, sábado à tarde (21), para junto dos filhos Paulo e Graciano Filho, fazerem uma das coisas que mais gostavam juntos: uma pescaria.
Enquanto dona Tereza rezava pela alma da amiga falecida, o marido entrava para o mundo dos imortais.
A trajetória de Graciano se confunde com a história recente de Anita Garibaldi. Ele presidiu a Fundação Hospitalar, o Clube Social, Clube Esportivo e se aposentou como exator estadual.
O prefeito Roberto Marin vai decretar três dias de luto oficial pela morte de Graciano. "O legado que este homem nos deixou foi sua dedicação à nossa sociedade e a construção de nossa história", descreve o prefeito, lembrando das muitas pescarias com Graciano Martello, seu amigo.
Resgate difícil pela profundidade e quantidade de galhos no fundo
O que deveria ser mais uma pescaria tranquila terminou em pesadelo para uma das famílias mais tradicionais de Anita Garibaldi.
Graciano Martello e os filhos Paulo, 43 anos e Graciano Filho, 38 anos. O acidente aconteceu no lago da represa da Baesa, na localidade de Petri, a 16 quilômetros do perímetro urbano.
O leme do motor do barco travou e Graciano Filho tentou corrigir o problema, quando a embarcação soqueou de forma repentina e os três ocupantes foram projetados para dentro do lago. A embarcação virou e afundou em poucos minutos.
Paulo ainda tentou segurar o pai pela blusa, mas não conseguiu. Graciano Filho agarrou o pai para cintura tentando tirá-lo da água, mas também não teve domínio da situação.
"Lembro que o pai disse: Paulo, se salva. E antes de sumir na água olhou e disse: para mim deu".
Pai e filhos, todos sabiam nadar. Mas estavam sem colete salva-vidas. Graciano estava se recuperando de uma cirurgia na perna, há quatro meses.
Sob forte emoção, Paulo disse na tarde desta segunda-feira, que espera que a natureza devolva seu pai. "Queremos ao menos uma despedida", resumiu.
Dos sete filhos de Graciano, apenas uma filha não está no município. Ela mora em Miami, nos Estados Unidos. O Corpo de Bombeiros tenta rastrear o local do acidente, mas tem limitações devido à grande profundidade.
De acordo com o mergulhador Josias Artur, a quantidade de galhos e árvores no fundo do lago dificulta o trabalho subaquático.
"Até cerca de 20 metros fazemos a varredura. Mas falta visibilidade e a pressão da água é muito grande", revela. O trabalho será retomado nesta terça-feira (24).