Projeto prevê implantar seis unidades cooperadas e organizar o setor produtivo da fruticultura na região
INTRODUZIDA no Brasil por volta de 1960, a fruticultura que se mostrava como uma alternativa de redenção econômica se depara hoje com um dilema. Onde armazenar tantas frutas e como manter o pequeno produtor na atividade. Essa resposta que a Associação dos Produtores de Maçã e Pêra de Santa Catarina (Amap) foi buscar em Brasília, junto ao Ministério da Agricultura, na missão que contou com a presença de 15 prefeitos.
Antônio Carlos Anselmo, presidente da Amap, entregou ao ministro Reinhold Stephanes, um anteprojeto de implantação de incubadora de cooperativas. Segundo dados da associação, o produtor individual está desarticulado e não tem como colocar no mercado suas frutas em igualdade de competitividade. "Temos experiência, condições climáticas, solo bom, produtividade, força de trabalho e só não estamos organizados para armazenar e vender nossa produção", argumenta Anselmo.
Diante de uma realidade econômica diferente de 40 anos atrás, quando se produzia e tirava a fruta direto do pé para a mesa do consumidor, hoje o fruticultor briga não apenas com a maçã produzida na argentina e outros países, mas com o fruticultor dentro da própria região. A capacidade de armazenagem a frio na região é algo em torno de 40% do volume de produção. Logo, 60% da safra tem de sair direto dos pomares para o mercado consumidor, a preços que não cobrem muitas vezes o custo de produção.
A meta é criar packing house e câmaras frias para fechar o ciclo que se inicia na colheita, armazenagem, embalagem e comercialização de frutas. O objetivo da Amap é implantar ao menos seis incubadoras voltadas especialmente aos pequenos fruticultores. Uma em Urupema, três em São Joaquim e duas em Bom Jardim da Serra. Como conta nesta entrevista o juiz aposentado e fruticultor Antônio Carlos Anselmo.
Correio Lageano: Quantos fruticultores estão filiados à Amap?
Antônio Anselmo: São mais de 2.200 produtores afiliados, entre o produtor individual e empresas. Nosso foco é o pequeno. É esse que precisa de representatividade e atenção especial. As empresas já estão estabelecidas, mas isso não quer dizer que não merecem atenção. Muito pelo contrário. Um está interligado ao outro e todos são importantes nesta cadeia produtiva.
CL: Que projeto é esse entregue ao ministro da Agricultura?
Anselmo: É uma ação bem focada e voltada à agricultura familiar, que representa em torno de 60% de toda capacidade produtiva. A proposta é criar pequenas cooperativas voltadas especificamente ao pequeno fruticultor. Enquadram-se aí, produtores com área de até cinco hectares de pomar. Os fruticultores da região serrana são responsáveis por cerca de 300 a 350 mil toneladas de maçã por ano. E só 120 mil toneladas são armazenadas a frio. Quase 200 mil toneladas não têm acesso ao sistema frigorificado. É vendido direto do pomar.
CL: O senhor pode detalhar o projeto?
Anselmo: Sim. São grupos de no mínimo 20 pequenos fruticultores. Com estrutura limite entre três e cinco mil toneladas de capacidade de armazenagem a frio. O dinheiro para financiar as incubadoras é do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), ao custo financeiro de 4% ao ano e quatro anos de carência, além de prazo de 20 anos para pagar. Mas primeiro temos de formar os grupos cooperados. E vamos escalonar as incubadoras de acordo com a capacidade produtiva do grupo. O custo de implantação de uma incubadora oscila na faixa R$ 1,2 mil por tonelada. Se tivermos uma incubadora com capacidade para cinco mil toneladas, será necessário um investimento de oito a dez milhões.
CL: Mas como será a gestão dessas incubadoras?
Anselmo: O propósito é uma administração compartilhada com o Estado. O fundamento é de que o produtor possui a tecnologia de campo, sabe produzir, tem qualidade, mas não tem experiência nem qualificação administrativa e de comércio. Nos primeiros cinco anos, a administração da cooperativa tem de ser compartilhada com técnicos do Estado. Até que se ganhe autonomia de gestão.
CL: Quantas incubadoras estão previstas?
Anselmo: Olha, Bom Jardim da Serra comporta duas unidades com até cem produtores em cada incubadora. São Joaquim absorve ao menos três unidades e Urupema mais uma. Os estudos devem indicar que Urupema e Rio Rufino podem ser incorporados numa única incubadora. Até 2020 esse projeto demandaria R$ 140 milhões. Prevemos um escalonamento de R$ 14 milhões por ano. Seriam duas unidades implantadas a cada ano.
CL: A produtividade média cresce a que velocidade anual?
Anselmo: Em média 5% ao ano. Isso significa dizer que até final da próxima década a produção será o dobro da existente hoje. Logo, corremos contra o tempo. Primeiro porque a produtividade é crescente, novas áreas são implantadas a cada ano e nossa capacidade de armazenagem a frio está estagnada. E tendo uma oferta maior que a capacidade de consumo o preço despencará. Só para se ter ideia, a retenção nas exportações este ano foi de 50 mil toneladas devido à crise mundial, o que nos remeteu à necessidade premente de abrir novos espaços de armazenagem a frio.
CL: Como foi a receptividade do ministro da Agricultura?
Anselmo: A acolhida do ministro Reinhold Stephanes foi a melhor possível. Mostrou-se sensibilizado com a proposta. E pediu primeiro que cumpramos o dever de casa, que é organizar os produtores e definir o terreno onde se pretende implantar a incubadora. O imóvel será garantia da linha de financiamento do governo. Mas terá de haver uma contrapartida mínima dos cooperados, um valor simbólico.
CL: Os prefeitos estão inteirados desse projeto?
Anselmo: Sim. Apóiam a iniciativa e concordaram em doar as áreas para implantar a incubadora. A Câmara de Vereadores tem de aprovar e acredito que nos próximos anos teremos uma realidade da fruticultura bem diferente da existente hoje. O que temos é um projeto bem embasado e sem achismo ou retórica.
CL: Já teve reunião com os prefeitos para tratar do assunto?
Anselmo: Em Bom Jardim da Serra tivemos o primeiro encontro e o prefeito Rivaldo Macari se comprometeu em doar o terreno. Assim como o prefeito de São Joaquim, José Nérito e o de Urupema, Amarildo Gaio. A Epagri vai auxiliar com um técnico especializado em cooperativismo e vamos formar os grupos e construir esse grande projeto para a fruticultura serrana.