Queda do FPM e do ICMS ajudam a piorar a situação que está ficando insustentável, segundo o prefeito Firmino Branco.
ESTIMATIVA de queda de 40% na produção de grãos. Como conseqüência redução de 12% no movimento econômico. São apenas dois dos vários fatores negativos que a estiagem prolongada está causando em Campo Belo do Sul. O prefeito Firmino Chaves Branco vai decretar esta semana situação de emergência, pois há 60 dias não ocorre chuva regular.
A situação está ficando crítica e em algumas localidades o gado está morrendo por falta de água. "Para agravar ainda mais o quadro, temos apenas duas retroescavadeiras e uma está com problemas mecânicos. Só resta uma e com esta temos de abrir ao menos 1.500 bebedouros de água. Grande parte das 26 comunidades do interior sofrem com a falta de água", afirma o prefeito.
Ele pediu à secretaria de Agricultura um levantamento minucioso do número de famílias que estão sendo castigadas pela estiagem. Da mesma forma uma equipe da Coopercampos está fazendo o mesmo trabalho junto dos produtores rurais e a Epagri também levanta a situação nas comunidades do interior. Com base nesses dados é que será publicado o decreto de situação de emergência.
O que apuraram os técnicos agrícolas é que cultivares como a soja sofreu uma desidratação excessiva. O normal seria umidade entre 14% a 16% na planta e na colheita se constatou umidade máxima de 10%. Como a estiagem precipitou o ponto de colheita, o grão está murcho. E assim os reflexos se multiplicaram em outras culturas.
Maior produtor de grãos da Serra Catarinense, Campo Belo do Sul responde por até 12 mil sacos/ano, em cultivares como trigo, feijão, milho e soja. "A expectativa no plantio era de aumento de produção. Mas a estiagem não deve confirmar a tendência inicial", diz o prefeito. Para o produtor a situação ainda pode piorar. É que está se aproximando o período de planto de pastagens de inverno e a terra não tem umidade bastante para germinar a semente.
O prefeito Firmino Branco está se esforçando para coloca as máquinas em socorro aos produtores rurais. Mas esbarra na falta de combustível. "Não quero nada do governo do Estado que não seja ajuda de combustível", apela o prefeito. Ele está de mãos atadas, porque além dos prejuízos na agropecuária, Campo Belo do Sul amarga uma queda de R$ 100 mil no retorno do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
Descapitalizada a prefeitura de Campo Belo do Sul começa receber pedidos de ex-operários de madeireiras demitidos nos últimos meses. E há caso de serraria que não pode nem fechar por falta de dinheiro para acertar a rescisão dos funcionários. A crise afeta o município por todos os lados e segundo Firmino Branco, o município está refém de uma crise sem precedentes.
"Só temos como certo hoje a educação e a saúde que tem recursos especiais. As demais áreas estão comprometidas. Estamos cortando hoje da própria carne para sobrevier", desabafa o prefeito. Com o "freio" puxado e o pé colado no acelerador, a prefeitura de Campo Belo do Sul cambaleia como os demais municípios, nocauteados pela crise econômica.
Açude secou e produção de leite está despencando
"Até água para tomar estamos racionando. Para chegar no reservatório tem de bombear a água. Em sete anos que moro em Campo Belo do Sul, esta é a maior estiagem". A declaração é do produtor rural Marino Pinto, da localidade de Chapada, a 14 quilômetros do perímetro urbano. Do açude de onde a família retirava peixes e água servia de bebedouro ao gado, resta lama e chão partido. A água simplesmente evaporou.
Há mais de dois meses não chove na localidade de Chapada. Uma garoa esta semana irrigou o chão. Mas não juntou água. O feijão considerado principal produto na mesa dos colonos, secou na marra. "Teve queda de produção, mas ainda conseguimos colher. O que preocupa agora é o gado que está sem água", afirma o produtor rural.
Um tubo improvisado com água bombeada é que está servindo para matar a sede do gado, na propriedade de Marino Pinto. A produção de leite já despencou 50% e o medo do produtor é que, assim como a água, o leite das vacas também se acabe por falta de pasto.
Se não chover nos próximos dias, a pecuária de corte e leiteira pode ficar comprometida. E o reflexo pode ser o aumento de preço do leite e derivados, assim como da carne, pela oferta menor que a demanda de consumo.