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Colombo faz discurso municipalista no Senado

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O recém-eleito senador Raimundo Colombo (PFL-SC) em seu primeiro discurso no Plenário do Senado, nesta terça-feira (13), disse que é um municipalista. E que e que fará oposição independente, crítica e forte ao governo federal.
Ele entende que o seu papel é refletir a vontade dos seus eleitores. "Isso é inegociável. Não me faz nenhum tipo de medo ser oposição", afirmou. Ao defender sua posição em favor dos municípios, o senador disse que embora fale-se muito em Brasília sobre mortalidade infantil, crise da habitação e reforma tributária, somente no município é possível ver a realidade.
Ele afirmou que o Estado brasileiro "é um peso nas costas do povo, embora esteja de costas para este mesmo povo". Colombo ainda defendeu a reforma política e a recuperação da autoridade pelo político através da ética.
Ele salientou que foi pela falta de ética que os políticos perderam a credibilidade e disse esperar que um ciclo político esteja se encerrando, abrindo a oportunidade de mudanças. "É preciso mudar esse modelo político que premia os maus políticos", comentou.
Os senadores Marco Maciel (PFL-PE) e Romeu Tuma (PFL-SP) cumprimentaram Colombo e se associaram a ele na defesa da reforma política.
Natural de Lages, Colombo lembrou que é o quinto lageano eleito para o Senado.
Ele assumiu a vaga deixada pelo ex-senador Jorge Bornhausen (PFL-SC). E destacou ter sido iniciado por Bornhausen na política e disse que pretende seguir os seus passos no Senado.

Integra do primeiro discurso do Senador Raimundo Colombo:

– Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje, faço, nesta Casa, o primeiro discurso, o primeiro pronunciamento. É a minha estréia. Faço-o com uma honra muito grande, por ter o privilégio, a oportunidade de representar Santa Catarina, o meu Estado, especialmente a minha cidade, a cidade de Lajes, que tem uma história muito grande no Senado da República. Sou o quinto lageano a ser Senador.

Primeiro, foi o velho Vidal Ramos, uma pessoa de grande cultura, homem que modernizou o Estado de Santa Catarina, lá por mil novecentos e pouco, Senador Mão Santa, e deu ênfase muito grande à educação. Até hoje colhemos os frutos.

Depois, foi o filho dele, Nereu Ramos, que, inclusive, exerceu a Presidência da República num momento importante da vida brasileira e foi um dos políticos mais brilhantes de Santa Catarina, até mesmo do Brasil.

Depois, Celso Ramos, que também foi Governador, foi um brilhante Senador; depois, o Senador Dirceu Carneiro, mais recentemente.

Para privilégio meu, talvez não mereça, estou aqui hoje sendo o quinto lageano. Substituindo um brasileiro ilustre, meu líder político, homem que todo o Senado e o Brasil aprendeu a respeitar, o Senador Jorge Bornhausen.

Para mim é uma enorme responsabilidade, um trabalho muito difícil, que exigirá muito empenho e ajuda de todos os companheiros, para que eu não deixe cair a qualidade dos trabalhos do Senado e manter os ideais, o trabalho, o esforço desse grande brasileiro, Senador Jorge Bornhausen, Presidente do meu Partido. S. Exª me iniciou na vida pública há muitos anos. Aprendi muito com S. Exª. Desejo fortemente seguir seus passos, mas – é claro – com a minha personalidade e a minha luta, tentando estar à altura do desafio de substituí-lo e representar a força política de Santa Catarina. No segundo pronunciamento, quero falar muito sobre Santa Catarina.

Também sou fruto de uma aliança política que envolveu e trouxe a força do Governador Luiz Henrique e do Vice-Governador Leonel Pavan, que me ajudaram muito na eleição, do meu 1º Suplente e ex-Governador Casildo Maldaner, que me deu enorme força junto com a senadora Niura de Marchi (2ª suplente). Isso fez com que eu fosse hoje o político mais votado da história de Santa Catarina, alcançando uma votação de 1.735.000 votos – 900 mil votos acima da segunda colocada. Isso me dá uma responsabilidade muito grande, mas trago as convicções de um municipalista. Fui Prefeito de Lages por três vezes e, nessa convivência, aprendi muito olhando nos olhos das pessoas, sentindo a aspiração, vendo o sofrimento, convivendo com a realidade do povo sofrido do interior.

Em Brasília – já fui Deputado Federal -, vemos muitos índices, como o da mortalidade infantil, como um desafio para todos nós, mas, no Município, vemos o lado mais cruel da mortalidade infantil. Vamos ao velório, vemos a pessoa que não pôde dar à família um atendimento de qualidade, vemos a subnutrição.

Vemos, enfim, todo esse desespero que é a vida das pessoas. Isso também é refletido na habitação, na crise habitacional, tão falada em nosso País e que, apesar de constar no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), vê-se pessoas morando embaixo de pontes, sem ter onde morar, o que traz sofrimentos.

Vejo o povo brasileiro e a imprensa falarem a toda a hora sobre a reforma tributária. O Senador Álvaro Dias foi brilhante nas suas considerações, trazendo para mim uma grande contribuição. Na convivência com munícipes, vemos o que significam 62 taxas, contribuições e impostos. Veja-se uma pessoa hoje tentando um emprego de motorista. Quanto custa uma carteira de motorista hoje? R$1.200,00. Para um motorista de táxi que está iniciando sua atividade, R$1.200,00 é muito dinheiro.

Esta semana eu estava falando com um rapaz que comprou um caminhão. Para fazer o leasing do caminhão, agora inventaram uma taxa, cujo registro em cartório custa R$1.000,00. Mas R$1.000 para quem está iniciando uma atividade, para o pequeno empresário, é muito dinheiro.

Por isso, é possível se dizer que o Estado brasileiro hoje é um peso para a sociedade carregar. E ele, na verdade, está de costas para as pessoas mais pobres. A reforma tributária vai refletir-se diretamente na vida das pessoas.

O povo brasileiro, na sua grande maioria, não tem noção de que é quem paga os imposto. As pessoas acham que quem paga imposto é o dono do posto de gasolina, é o dono do supermercado, é a loja onde ele compra o produto. Na hora em que ele souber que quem paga imposto é ele e que é do bolso dele que sai essa arrecadação absurda, essa carga tributária criminosa, que impede o crescimento, que aumenta a injustiça social, que atrapalha as pessoas, não sei como vai ser. Será muito difícil conter a sociedade quando isso fizer parte do conhecimento de todos.

Quanto a meu posicionamento político, penso que a sociedade precisa ter aqueles que apóiam o Governo, que o defendem, que contribuem com ele.

Mas a sociedade precisa ter também aqueles que cumprem o papel de oposição. As duas funções são nobres e necessárias, e eu vou exercer o meu papel onde a sociedade me colocou. O meu papel é o da oposição. Isso para mim é inegociável. Eu vou cumprir com o meu dever, que não é fazer uma oposição dura que impeça de governar ou que atrapalhe o Governo. Não, mas fazer uma oposição independente, firme e corajosa, para ser a voz da sociedade, para ser a oportunidade daqueles que discordam, para ser aquele que aponta as alternativas e que faz as críticas, algumas construtivas, outras vezes duras quando necessário, no intuito de se chegar a um posicionamento correto.

Não me faz nenhum tipo de medo ser Oposição. Considero-a necessária. E como é meu primeiro discurso, falo dos meus sonhos também, o sonho de ver uma sociedade vivendo sob a ética. Nós, políticos, perdemos em muito a credibilidade. Dá para dizer que a sociedade não gosta dos políticos. Ela rejeita. E rejeita porque, ao longo do tempo, vem havendo um desgaste cada vez maior que faz com que haja um desencontro entre a vontade da sociedade e aquilo que precisa ser feito por nós. Os principais problemas são os problemas éticos. É a falta de ética que nos desmoraliza. É com ela que temos que conviver com a sociedade e quando não a temos ficamos sem nenhuma credibilidade para essa convivência.

Acho que estamos terminando um ciclo na política brasileira. Todos os grupos políticos já governaram e estão tendo a oportunidade de governar agora, mesmo na reeleição. Isso faz com que a luta, o embate duro, de governo e de oposição sofra realmente um processo, não apenas de apontar para reformas, mas para mudanças profundas que são aquelas desejadas pela sociedade. Essas mudanças nos dão a oportunidade de construir o novo, de construirmos o melhor.

Quando se tem uma luta muito dura entre aqueles que nunca governaram, ou estão muito longe, há tempos fora do governo, e os que estão há muito tempo no governo, tal luta vira meio partidária e às vezes até pessoal.

Muitos não vêem naqueles que foram do governo até recentemente a autoridade para combater o que está errado, porque participaram quando foi feito; também não vêem os da oposição comprometidos com aquilo que aconteceu. Quando termina um ciclo, a fase que estamos vivendo, esse processo se abre, a oportunidade surge, realmente nasce o momento da mudança.

Para mudar, não adianta apenas ter o poder. Com ele se comanda superficialmente, mas a mudança exige autoridade, que é bem diferente de ter o poder, porque é a capacidade de convencer; é a autoridade para ser seguido por outros. Política é a arte de liderar as pessoas. Realmente, nesse ponto temos o nosso grande desafio.

Muito menos importante é o poder que temos, mas, sobretudo, importante é a autoridade que precisamos ter para sermos acompanhados pela sociedade.

Eu defendo, como primeira mudança de conceito, a mudança de modelo político. Vi o Senador Marco Maciel reapresentar o projeto da cláusula de barreira; o projeto da mudança do modelo político. Esse que vivemos nos tem desmoralizado. Prejudica o nosso trabalho. Premia os maus políticos. Faz com que nos esvaziemos no processo e tenhamos dificuldade até para andar na rua. Para conquistar um novo patamar na política brasileira, precisamos realmente fazer a mudança do modelo político.

Sofremos algumas derrotas. A interpretação do Supremo Tribunal Federal sobre a cláusula de barreira foi um profundo atraso. A diminuição do tempo na televisão foi uma dificuldade. Agora, essa interpretação do fundo partidário, beneficiando aqueles que nem têm representação no Congresso, fazendo com que se crie ali um cartório, tão negativo na política brasileira, tira de nós uma oportunidade. Eu defendo com convicção a implantação do voto distrital, a implantação do sistema de partidos fortes, com, provavelmente, fidelidade partidária.

Mas, para honra minha, quero conceder a palavra a um dos políticos que eu mais admiro no Brasil, um dos políticos que é referência na minha vida política, que é o meu querido Vice-Presidente, Senador Marco Maciel. O senhor não sabe a honra que é, para mim, estar aqui ao seu lado e ouvi-lo agora.

O Sr. Marco Maciel (PFL – PE) – Muito obrigado, nobre Senador Raimundo Colombo. Eu gostaria, antes, de tecer algumas considerações sobre o discurso muito oportuno que V. Exª está proferindo, que, aliás, marca a sua estréia aqui no Senado Federal. Eu gostaria de dizer que já o conheço há bastante tempo – tive a ventura de conhecê-lo por intermédio do Senador Jorge Bornhausen, certamente um dos políticos mais probos e competentes do nosso País e presidente há 13 anos da nossa agremiação – e desde que o conheci aprendi a admirá-lo quer no campo do Legislativo quanto também no campo do Executivo, posto que foi durante três mandatos, se eu não estou equivocado, prefeito de Lages, que é uma das grandes cidades de Santa Catarina, terra de Nereu Ramos e de tantos outros grandes políticos brasileiros. Estou certo de que V. Exª, a exemplo do que já fez no Legislativo Estadual e Federal, agora, sobretudo, no Senado Federal, vai ter um excelente desempenho. Também não posso deixar de destacar que a presença de V. Exª aqui representa também a renovação. Nós precisamos trazer novos quadros ao debate nacional, mesmo porque a democracia é definida como rotatividade, como, conseqüentemente, oferecimento de novos quadros à política nacional.

Devo também felicitá-lo pelo fato de V. Exª ter uma posição muito coerente no que diz respeito às chamadas reformas políticas ou,se quisermos, as reformas institucionais. Nós acreditamos que essas reformas são fundamentais para aprimorar a governabilidade, isto é, criar instituições capazes de responder às demandas da sociedade. Por isso ouço com muita atenção o discurso de V. Exª e não tenho nenhuma dúvida em prever que V. Exª cumprirá um excelente mandato nesta Casa, sobretudo porque V. Exª sucede aqui o nobre homem público Jorge Bornhausen. Por isso, receba meus cumprimentos pelo seu discurso e os votos de continuado êxito em sua proba e fecunda vida pública.

O SR. RAIMUNDO COLOMBO (PFL – SC) – Muito obrigado. Ouço com carinho o nosso Líder Romeu Tuma, meu companheiro.

O Sr. Romeu Tuma (PFL – SP) – Senador, eu também, a exemplo do nosso querido Presidente Senador Marco Maciel, não poderia deixar de saudá-lo. V. Exª vem de um Estado importante, por onde andei durante longo tempo, em decorrência de minha vida profissional e em razão das ligações com indústrias de lá. V. Exª traz a importância das reformas que serão discutidas nesta Casa, porque se fala na reforma política, liderada pelo Senador Marco Maciel, mas ainda há a reforma tributária, a reforma trabalhista e tantas outras que nos afligem muito, Senador Marco Maciel. Acho que o Senador Raimundo Colombo tem um papel importante nessa discussão.

E a sua vinda para cá, no lugar do Senador Jorge Bornhausen, nos dá a mesma tranqüilidade que tínhamos anteriormente e acho que o nosso Líder, Senador Marco Maciel, ao se pronunciar, ao se manifestar, traduz tudo aquilo que vai na nossa alma e o desejo de sucesso a V. Exª.

O SR. RAIMUNDO (PFL-SC) – Muito obrigado, nobre Senador. Eu fico muito honrado com o aparte de V. Exª e também, do nosso Senador Marco Maciel.

Encerrando, quero dizer da minha alegria em ter tido esta oportunidade e vou renová-la muitas vezes. E quero, no meu próximo pronunciamento, falar bastante sobre o meu Estado, trazendo os detalhes e as esperanças do meu povo.

Sr. Presidente, Senador Álvaro Dias, eu coloco, com convicção, aquilo que V. Exª falou: é a questão da reforma tributária que falamos há quatro anos. Se olharmos os jornais, quando tomamos posse e, também, outros tomaram posse no Governo, o discurso era assim há oito anos e, também, há doze anos. E a sociedade e os que estão em casa devem estar perguntando: como é que nós fazemos, em quem nós acreditamos? Será que vão ser mais quatro anos de enrolação ou será que alguma coisa nova vai acontecer?

Este é o nosso desafio. Muito obrigado.