A safra de 2016 não deixou saudade para os produtores de vinhos finos de altitude da Serra e do Meio Oeste catarinense. Uma geada tardia, no fim de 2015, causou a queda acentuada na produção dos vinhedos, o que refletiu negativamente no número de garrafas lançadas no mercado. Esse cenário ficou para trás. Para este ano, a expectativa é de retornar à normalidade, com aumento de 33% na safra.
A colheita da fruta começou no início do mês, quando também ocorre a 4a Vindima de Altitude para marcar a data, e vai até maio.
Segundo Guilherme Grando, presidente da Vinhos de Altitude, associação que congrega os 35 produtores catarinenses, o clima foi o principal fator positivo desta temporada. Houve frio na medida certa e muito sol ao longo do verão, garantindo alto índice de açúcar natural na planta e sabor diferenciado. Como os vinhos estão localizados acima dos 900 metros de altitude, o frio noturno também oferece o descanso necessário para que a planta possa crescer ao máximo.
– Neste ano teremos quantidade e qualidade. Devemos produzir 1,6 milhão de quilos – diz Grando, lembrando que no ano passado a safra foi de 1,2 milhão de quilos.
Normalmente, é necessário um quilo da fruta para se produzir uma garrafa. Em função da safra menor no ano passado e da redução no número de encomendas, a previsão é de que entre 1,4 e 1,5 milhão de garrafas cheguem ao mercado. Já para 2018, a esperança é de que a produção possa chegar aos 2 milhões de quilos, o que significaria produção recorde da bebida no Estado. Hoje, SC tem 600 hectares ocupados para a plantação de uvas para vinhos finos.
Enoturismo ajuda a impulsionar PIB
As produções de vinhos e maçãs têm criado um forte vetor econômico para a Serra catarinense, principalmente na região de São Joaquim. A cidade, umas das capitais brasileiras do frio, observou seu PIB crescer muito acima de cidades próximas nos últimos 10 anos. Uma das explicações é o enoturismo. Segundo dados da Secretaria de Estado da Fazenda e da Federação Catarinense de Municípios (Fecam), a soma de tudo que é produzido na cidade em 2006 alcançava R$ 170 milhões, atrás de municípios com população menor, como Correia Pinto (R$ 218 milhões) e Otacílio Costa (R$ 270 milhões). Uma década depois, a lista se inverteu, com São Joaquim puxando a frente, com R$ 608 milhões, seguida de Otacílio Costa (R$ 549 milhões) e Correia Pinto (R$ 415 milhões).
Para o ex-presidente da Vinhos de Altitude Acari Amorim, um exemplo é a cidade gaúcha de Gramado, que possui um PIB de R$ 3 bilhões.
— Gramado não possui a produção de vinhos nem a nossa natureza, mas se organizou e hoje tem um turismo de inverno forte — diz Amorim, um dos pioneiros do setor em SC.
Ele acrescenta que as perspectivas para o futuro são boas, já que o enoturismo traz consigo uma redução na sazonalidade das visitas à Serra. Ele acredita ainda que a região de São Joaquim poderia investir em uma maior diversificação da economia, com a criação de novos polos. O primeiro deles seria tecnológico, voltado ao agronegócio. Também poderia se investir nos subprodutos da uva e da maçã, mirando na indústria da beleza. Um terceiro vetor poderia ser a moda têxtil de inverno.
Vindima de Altitude
Desde a última sexta-feira, ocorre em São Joaquim a 4ª Vindima de Altitude, famosa festa da colheita da uva. O evento vai até 26 de março, com atrações culturais, visitas guiadas às vinícolas e jantares. Para a edição de 2017, a expectativa dos realizadores é receber 55 mil pessoas, 10% a mais do que o número registrado no ano anterior.
Informações DC