Correia Pinto, 04 e 05/05/2013, Correio Lageano, por Núbia Garcia
São quase 11 horas da manhã e o cheirinho de comida invade as salas de aula do Centro de Educação Infantil (CEI) Estrelinha Dourada, no bairro Nossa Senhora do Rosário. Os alunos, todos com menos de 4 anos, entram no refeitório, que é enfeitado com desenhos de frutas e verduras, se sentam em seus lugares e esperam pelo almoço. Eles ainda não têm noção disso, mas a refeição servida é considerada a melhor do Sul do país.
Todos os alunos demonstram empolgação para esta, que é a segunda refeição de um total de quatro oferecidas pela escola durante todo o dia. Os alimentos servidos são diferentes do que a maioria deles são acostumados a comer hoje em dia, como frituras, congelados e refrigerantes. Desde 2009, as escolas da rede municipal de Correia Pinto servem para seus alunos alimentos orgânicos, produzidos por agricultores familiares, o que deixa cada refeição com um sabor especial.
Nesta sexta-feira, seguindo um cardápio predeterminado, as merendeiras do CEI Estrelinha Dourada prepararam feijão, arroz, macarrão com molho de frango e saladas de tomate, chuchu, cenoura, alface, couve e repolho.
Os coleguinhas ainda nem terminaram de comer o que foi servido e a pequena Raieli da Rosa Lourenço, de apenas 1 ano e 9 meses, já chama a professora e diz “qué mais!”, para repetir o almoço. “Tomate e folha verde”, é o que a menina pede.
Quando a professora passa servindo mais salada, Diogo Lourenço Patrício, de 3 anos, a chama e pede “mais daquele verde”, para que ela lhe sirva outra porção da salada de repolho picado.
A comunidade onde o CEI atua é carente e o hábito de comer frutas e verduras não fazia parte do dia a dia da maioria das crianças. “Depois que houve a mudança na merenda da escola, eles aceitam muito bem e até pedem mais”, afirma a coordenadora do CEI Estrelinha Dourada, Marilva Camargo.
Alimentos vêm da agricultura familiar
A maior parte dos alimentos oferecidos aos alunos é proveniente de propriedades agrícolas familiares de Correia Pinto. De acordo com a coordenadora da Merenda Escolar da Secretaria de Educação do Município, Gicelaine Malinoski Pereira, o fornecimento é feito por 26 agricultores e duas cooperativas.
Segundo ela, neste ano começaram a ser introduzidos na merenda os alimentos manipulados, que são produtos resultantes da manipulação de certos alimentos, como o pinhão, que é servido em forma de paçoca e o leite, que vira queijo, manteiga e iogurte para chegar à mesa dos alunos.
De acordo com a secretária Municipal de Educação, Lúcia Ortiz, a ideia de servir alimentos orgânicos e com qualidade para os alunos surgiu a partir da implantação de um cardápio mais elaborado e com base na alimentação funcional. A parceria com setores como a Epagri e a Secretaria de Agricultura é uma forma de incentivar a agricultura familiar.
Além de implementar à alimentação frutas, verduras e hortaliças, as refeições são complementadas e se tornam funcionais ao serem preparadas com azeite de oliva, gergelim, linhaça e granola, dentre outros. “Com vitaminas preventivas de doenças”, diz Lúcia.
Benefícios chegam aos agricultores familiares
O agricultor Julio Diniz Alves é coordenador do Grupo Ecológico Campina Verde, que é formado por 10 agricultores familiares. Eles são responsáveis, basicamente, pelo fornecimento de hortaliças e legumes ao município.
Para ele, desde quando este novo sistema começou a funcionar, em 2009, e as famílias do próprio município passaram a oferecer os alimentos para a produção das merendas, até a renda dos produtores melhorou.
Segundo ele, os agricultores do Grupo Ecológico produzem alimentos sem utilizar agrotóxicos ou adubos químicos. “Daí a gente faz a colheita dele e, ainda fresco e pré-lavado, entrega para a secretaria. A higiene total para fazer os alimentos é feita pelas merendeiras”, completa.
De acordo com a nutricionista Giselle de Oliveira Faccin, a valorização dos agricultores se dá através do pagamento dos produtos comprados, que é mais alto que o de varejo. O apoio da Vigilância Sanitária contribui para o armazenamento dos alimentos comprados na entressafra. “Compramos produtos na entressafra e a Vigilância orienta a forma correta de manipulação durante a safra para que os mesmos sejam armazenados e possam ser oferecidos na merenda, sem serem desperdiçados na lavoura”.
Para garantir a qualidade das refeições servidas, todos os alimentos comprados pela Secretaria de Educação são inspecionados e certificados pela Vigilância Sanitária do Município. “Hoje só não compramos dos agricultores familiares alimentos perecíveis como carnes, trigo e leite, por exemplo”, completa Lúcia Ortiz.
Merenda é rica em fibras
Giselle de Oliveira Faccin, nutricionista da Secretaria de Educação de Correia Pinto, fala sobre o preparo da merenda com qualidade.
Correio Lageano: O que a merenda oferecida pela rede tem de diferente que a faz ser tão reconhecida?
Giselle: Servimos alimentação certificadamente orgânica, com produtos da agricultura familiar. Além de grande variedade de vegetais e frutas, oferecemos alimentos como azeite de oliva extra virgem, arroz, pão, bolacha, suco de uva integrais, semente de linhaça, gergelim, farelo de aveia, granola.
CL: Como é composto o cardápio das refeições?
Giselle: É rico em fibras, antioxidantes, vitaminas e minerais como acido fólico, vitaminas “A”, “E”, “D”, “B12”, cálcio, magnésio, ferro, zinco, redução dos níveis de dioxina e bisfenol A. Para melhorar ainda mais, os pratos plásticos foram substituídos por de vidro.
CL: Como é formulado o cardápio?
Giselle: Conforme a aceitabilidade dos alunos, observando o equilíbrio nutricional. Os alimentos são escolhidos para o cardápio pensando na cultura agrícola da região, hábitos locais e alimentos sazonais (alimentos de safra), escolhendo preparações conforme as estações do ano inverno/verão.
CL: Houve alguma mudança foi feita nas refeições?
Giselle: Reduzimos o consumo de sal e temperos prontos, aumentando o uso de temperos naturais e introduzimos o suco de frutas natural.
Saiba mais
Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar
- Em 2011 o município ficou entre as 40 melhores do país e, em 2012, entre as 30 melhores merendas do país. No mesmo ano, conquistou o primeiro lugar do Sul na categoria Merenda Orgânica da Agricultura Familiar.
- O prêmio é organizado pela ONG Ação Fome Zero em parceria com o FNDE – Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação.
25 unidades escolares, entre escolas urbanas e rurais, os Centros de Educação Infantil (CEI’s) e a Apae, recebem merenda oferecida pelo município
São 2.200 alunos atendidos diariamente
Em 2012, o município serviu 693.800 refeições
São servidas 15.400 refeições por dia.
São investidos R$ 500 mil por ano em merenda escolar, deste total, R$ 180 mil são repassados pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar.
Matéria extraida na Integra do Jornal Correio Lageano dos dias 04 e 05 de Maio de 2013
Jornalista: Núbia Garcia