O governador Raimundo Colombo recebeu na tarde desta quarta-feira, 3, em Florianópolis, lideranças políticas e produtores rurais que estão preocupados com a possibilidade da China iniciar a exportação de maçã para o Brasil, o que afetaria a cadeia de produção catarinense. Colombo ficou de tratar do assunto com o Ministra da Agricultura, Kátia Abreu, juntamente com outras demandas apresentadas pelo setor. “Essa é uma questão preocupante e vou atuar fortemente para fazer os argumentos catarinenses serem ouvidos”, afirmou o governador.
Uma nova parceria entre Brasil e China prevê a ampliação de produtos comercializados entre os dois países na área da fruticultura. O Brasil passaria a importar melão para os chineses e, em troca, passaria a comprar a maçã chinesa, mais barata diante da produção em escala muito maior. Uma alternativa levantada pelos produtores catarinenses é de o Brasil passar a importar pera no lugar de maçã, já que a pera tem uma menor produção comercial em Santa Catarina.
A China responde por quase metade da produção mundial de maçã e por cerca de 70% da produção mundial de pera. “A produção de maçã na China é 31 vezes maior do que no Brasil. Os chineses produzem muito, só a exportação deles já é maior que a produção brasileira. E como contam com uma série de subsídios do governo chinês para produzir e para exportar, a maçã chinesa chegaria ao mercado brasileiro com um preço menor do que o custo de produção em Santa Catarina. Qualquer volume exportado da fruta chinesa para o Brasil afetaria o equilíbrio do mercado brasileiro”, explicou o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Maçã, Pierre Nicolas Pérès.
Ele explicou, ainda, que outra preocupação é com a proteção sanitária vegetal, principalmente para evitar a reintrodução da doença Cydia pomonella, também conhecida como traça da maçã, nos pomares do país. Há mais de um ano, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) declarou que o Brasil está livre da praga, um feito inédito no mundo. Para manter esse status e garantir a segurança dos pomares, os produtores pedem que o país estabeleça requisitos fitossanitários rígidos para importação de frutas hospedeiras da traça da maçã.
Fraiburgo, com 36 mil habitantes, é um dos municípios catarinenses produtores. “O cultivo da maçã representa 35% da nossa economia. Mas se considerarmos o volume de empregos gerados no comércio pela cadeia produtiva, essa participação sobe para 50%. São empregos que estariam ameaçados com a entrada na maçã chinesa no nosso mercado”, afirmou o prefeito de Fraiburgo, Ivo Biazzolo, presente na reunião. Além de movimentar a economia local, a colheita da fruta, realizada de janeiro a maio, é responsável por atrair cerca de 10 mil turistas por ano. Em Santa Catarina, Fraiburgo é o segundo maior produtor da fruta, atrás apenas de São Joaquim.
Também acompanharam a audiência o secretário de Assuntos Internacionais, Carlos Adauto Virmond Vieira, que vai apresentar a preocupação catarinense no Ministério do Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio Exterior; e o secretário executivo da Agência de Desenvolvimento Regional de Videira, Dorival Carlos Borga.
Produção de maçã em Santa Catarina
Santa Catarina é o maior produtor nacional de maçã. Segundo informações da secretaria de Estado da Agricultura, a maçã catarinense responde por 49% da safra brasileira, com uma produção de 614 mil toneladas em 2015. Cerca de 75% dos produtores brasileiros de maçã estão em Santa Catarina.
O faturamento do setor em 2014 foi de cerca de R$ 2,1 bilhões com a comercialização da fruta in natura no mercado interno, mais US$ 32 milhões em exportações de maçãs frescas e US$ 22 milhões em exportações de suco de maçã. Estima-se que Santa Catarina seja responsável por 50% de todo esse faturamento.