Fiel militante político do PMDB há apenas quatro anos, Edilson José de Souza seria só mais um membro de agremiação partidária, se não tivesse sido eleito prefeito de Campo Belo do Sul. Padre Edilson, como é conhecido entre os correligionários obteve 55,64% dos votos válidos. Arrancou das urnas 2.967 sufrágios contra 2.365 do seu concorrente, Laerte Branco. Líder de uma coligação integrada pelo PMDB, PR, PPS, DEM, PSDB e PSD, Edilson é o primeiro padre eleito prefeito em toda história da Serra Catarinense, a região mais conservadora de Santa Catarina. Nesta entrevista ele conta um pouco de sua história e revela como superou os desafios depois de ter perdido uma eleição por apenas 55 votos em 2008.
Correio Lageano: Por que porta o padre Edilson entrou no mundo político?
Edilson de Souza: Através da igreja, ao perceber a necessidade das pessoas. Me vi na obrigação de fazer mais. De trabalhar por uma política honesta e transparente. O que me fez levar a esse raciocínio foi à forma como se faz política na região da Amures.
CL: Então foi a ação sacerdotal que lhe abriu os olhos para questão política?
Padre Edilson: Exatamente. A partir do momento em que você administra uma igreja se percebe a necessidade do povo e infelizmente as questões recaem aos órgãos públicos.
CL: Antes de 2008, o senhor teve alguma participação mais ativa na política?
Padre Edilson: Sim participei da primeira eleição do ex-prefeito Altamir Paes em Otacílio Costa. Sou primo do Altamir e tinha um compromisso com ele.
CL: Como o padre Edilson foi parar em Campo Belo do Sul?
Padre Edilson: Bom, eu nasci em Palmeira. Na época era distrito de Lages. Mas iniciei o sacerdócio por Campo Belo do Sul e Cerro Negro era distrito de Campo Belo. Neste contesto fiz meu trabalho na paróquia. Hoje a paróquia de Campo Belo está desmembrada de Cerro Negro.
CL: Teve alguma participação eleição do prefeito Teba?
Padre Edilson: Digamos que colaborei com ele.
CL: Mas quando tentou sua própria eleição em 2008 em Campo Belo do Sul, não obteve êxito. Por quê?
Padre Edilson: Quando você enfrente uma situação, onde as desproporções são muito grandes é muito difícil quem está em desvantagem sobressair. Além do mais foi minha primeira experiência prática como candidato. Na campanha deste ano trabalhamos corrigindo os erros do passado e usamos como lema, um voto de confiança. Na eleição de 2008 havia outro fator, concorremos com chapa pura o que torna ainda mais difícil a disputa.
CL: O que o fez voltar a concorrer?
Padre Edilson: O apelo da população. Eu disse sim aos eleitores. Você não é obrigado a prometer nada, mas quando prometer cumpra.
CL: Como foi esse seu jejum dos últimos quatro anos?
Padre Edilson: Foi duro. A ponto de me obrigarem a sair da região. Fui trabalhar em outras paróquias. A pressão de lideranças políticas contrárias à minha ideologia foi muito forte. Eu era uma ameaça a eles. Eles tinham razão.
CL: Como o senhor se elegeu prefeito em Campo Belo e mora em Cerro Negro?
Padre Edilson: Tenho duas residências. Uma em Campo Belo e outra em Cerro Negro. Atualmente sou pároco em Cerro Negro, mas nunca me desliguei de Campo Belo, até porque são municípios vizinhos.
CL: Uma curiosidade. Cerro Negro então elegeu dois prefeitos?
Padre Edilson: Não diria elegeu dois prefeitos. Mas Cerro Negro tem dois prefeitos eleitos. E tenho a dizer que sou grande amigo da prefeita eleita Sirlei Kley.
CL: Como fica sua situação agora perante a Diocese?
Padre Edilson: Estou aguardando a decisão do Conselho de Presbíteros juntamente com dom Irineu Andreassa. Eles darão orientação do encaminhamento a partir de janeiro.
CL: Como pretende conciliar batina e administração pública?
Padre Edilson: Com organização. Foi assim que me elegi. Mas não posso perder minha essência que é o sacerdócio. Prova maior disso foi que no dia da eleição, às 10 horas presidi uma missa de corpo presente em Cerro Negro. Tem de ter tranquilidade e calma, acima de tudo.
CL: O que fez a diferença na sua campanha?
Padre Edilson: O desejo do povo pela mudança. A união das siglas partidárias e a seriedade e transparência de nossas propostas. Houve uma grande união em prol de um mesmo projeto. Posso resumir o êxito da eleição a três fatores: organização, união e oração. Nunca perdemos a fé e sempre rezamos e oramos pela mesma causa.
CL: O senhor tem consciência de que quebrou um paradigma em Campo Belo?
Padre Edilson: Sim, tenho consciência plena disso. Tanto que meu partido não elegeu nenhum vereador, mas nossa coligação elegeu cinco vereadores. Nós não temos uma sigla partidária, mas uma equipe de trabalho e estou tranquilo e sereno da governabilidade com apoio da Câmara de Vereadores. O prefeito elegeu cinco vereadores e os cinco vereadores elegeram um prefeito. Somos um contexto.
CL: E qual será sua prioridade de governo?
Padre Edilson: Educação que é o princípio de tudo. Mas sem esquecer da reestruturação organizacional, porque a população viverá um sistema participativo. Nossa proposta visa descentralizar as ações e delegar competências. É prioridade também as obras estruturantes.
CL: Como está o processo de transição?
Padre Edilson: Já iniciamos o diálogo com o prefeito. O Firmino é uma pessoa muito coerente e séria. Não penso que teremos dificuldades porque o prefeito é responsável e não creio que teremos alguma dificuldade. Eu acredito na administração atual e prefiro não fazer qualquer preconceito do que poderemos encontrar.
CL: E sua batina, vai pendurar?
Padre Edilson: Fui ordenado padre e sou padre. Talvez não exercendo as funções de pároco ou vigário, mas sempre estarei a disposição da Diocese de Lages. Se possível pretendo conciliar as celebrações nos final de semana com a gestão pública.
CL: Seu governo será ecumênico?
Padre Edilson: Sim, acredito fortemente no ecumenismo, na igreja e na comunidade.