Sem chuva regular há 40 dias, os moradores do perímetro urbano de São José do Cerrito podem ficar sem água tratada pela Casan. O desabastecimento atingiu, esta semana, o nível histórico de 50%. E a ordem é racionar água e evitar o desperdício. A estiagem que iniciou no final do ano passado se intensificou há pouco mais de um mês e a vazão da água no rio Antunes e do poço artesiano que abastece a cidade diminuiu pela metade. Segundo Luiz Varela, funcionário da Casan que monitora o reservatório superficial e o poço de profundidade, até o reservatório de 50 mil litros construído num dos pontos mais altos da cidade, está sem água.A vazão de nove litros de água por segundo do poço artesiano reduziu pela metade. O poço possui 120 metros de perfuração e a captação normal era feita a 17 metros. "Agora estamos encontrando água só com 56 metros de profundidade. E a vazão caiu para cinco litros por segundo", informou.
O reservatório do rio Antunes, também tinha vazão de nove litros de água por segundo e opera hoje, com 50% da capacidade. "O reservatório do rio está com um terço da capacidade. Não tinha visto, ainda, uma estiagem desta", revela Luiz Varela.
Os moradores das partes baixas da cidade ainda não sentiram os efeitos da falta de água. Mas quem reside em bairros como Bela Vista, Melcas, Nossa Senhora Aparecida e Dom Daniel, já estão com as torneiras sem água. Nestes bairros residem quase duas mil pessoas. "Por enquanto, a falta de água é eventual. Mas poderá ser permanente se não chover forte em dez dias.", avisa o técnico da Casan.
Para piorar a situação, estão aparecendo vazamentos ocultos na rede da Casan. São duas a três chamadas por dia, provocada pela própria estiagem. Através da rádio comunitária e de porta em porta, a equipe da Casam tem feito apelos aos moradores para racionar e não desperdiçar água. Especialmente evitar de lavar caçadas, carros e informar rápido à Casan, qualquer vazamento.
"O que for supérfluo tem de ser evitado. Se não racionar agora, certamente irá faltar. A informação é que o inverno será seco e sendo assim, nos assusta o que poder vir pela frente", avisa Luiz Varela.
Na manhã de quinta (10), uma equipe técnica da Casan de Criciúma esteve checando a situação no Cerrito. Junto com a gerente da unidade, Isabel Krailinck, decidiram drenar a água de um manancial próximo do rio Antunes para ajudar a manter o abastecimento. Hoje o sistema de captação de água funciona 24 horas e não consegue abastecer a cidade. E a tendência é agravar o que já não está bom.
Socorro vem com os baldes de água
O balde está fazendo parte da rotina dos moradores das partes altas de São José do Cerrito. Ao sinal de uma gota de água na torneira, todos correm para encher latas e galões. Na maior parte do dia, as donas de casa saem em busca de água. "Tem sido comum faltar água de manhã e só voltar à noite. É quando encho os baldes para no outro dia fazer alguma coisa para as crianças comerem. Não tem água, às vezes, nem para fazer comida", afirma Sirlene Aparecida dos Santos, moradora das margens da BR-282.
Ela revelou que o filho de 15 anos, se recusa ir à escola sem tomar banho. E como não tem água deixou de ir à escola vários dias. "A água chega fraca. Só na torneira do banheiro tem água. A caixa de água está seca faz tempo", relata Sirlene dos Santos. Algumas vezes, as pessoas se obrigam a buscar água em córregos que resistem a estiagem dentro dos matos.
É onde conseguem coletar água para lavar roupa e fazer alguma limpeza em casa. Como não tem água abundante para o chuveiro, os banhos são de bacia. Para a dona de casa, Laurinda Sutil a situação é ainda mais desoladora. Não tem nem caixa de água. "Não temos como comprar uma caixa para guardar água e o jeito é puxar em baldes", conta. Ela confirma que nos últimos dias a situação da falta de água está piorando.
Cerrito não recebeu qualquer ajuda para enfrentar a seca
Em janeiro o prefeito Everaldo Ransoni decretou situação de emergência. Até hoje, não entrou um centavo nos cofres da prefeitura para socorrer os atingidos pela estiagem. A quebra da safra atinge 50 mil toneladas e as lavouras de pastagens estão comprometidas em grande parte por falta de chuva.
O secretário de Administração Keni Muniz, reitera que na localidade de Bela Vista, água mineral está sendo levada para consumo dos alunos. "Nesta comunidade a prefeitura está investindo R$ 80 mil para implantar um sistema de abastecimento de água. São ao menos 50 casas sem água", afirmou o secretário.
Sobre apoio financeiro da Defesa Civil e do governo do Estado, Keni Muniz lamenta, mas até agora não houve nenhum socorro efetivo. E salienta que foi reivindicado R$ 80 mil da secretaria de Estado da Agricultura para abertura de bebedouros para animais e o valor foi reduzido para R$ 30 mil. E ainda assim, não foi liberado. O município aguada ajuda, porque a tendência é piorar a situação.